Vontades sem som
Talvez você me entenda como ninguém o tenha feito antes, talvez você seja apenas igual a todos os outros, todos os mesmos, em uma variação bem pequena.
Talvez eu seja sempre a mesma também, com tanta vontade de falar e de escrever, mas sempre me guardando, me guardando de mim, em mim.
Cheia de vontades sem som, para dentro, com medo, da voz dos outros, de seus dedos, de suas bocas, até de seus próprios pensamentos.
Pensando no que eles vão pensar.
Minhas vozes, minhas pessoas e histórias em turbilhão na minha mente, perante minha mão, nunca rápida o suficiente, sempre a solidão e o silêncio, e a tristeza da decepção.
E o tempo que corre, e a falta de tempo.
E tanto ainda o que se fazer, como fazer.
Não há tempo.
Vontades, sonhos, desejos, sonhos da hora de dormir.
Eu vi naquelas inscrições das pulseiras o significado do espiral. Voltar e dar voltas, voltar sempre ao mesmo lugar, mas ao mesmo tempo, como melhor versão de si mesma. E melhorar naqueles aspectos, aprender por aqueles erros, aprender pelo distanciamento, pelo movimento, pelo ir e pelo voltar, pelas perspectivas, pelo rodar, pelos ciclos.
E teve também o relato sobre o quarto das orquídeas, você não ser mais capaz de distinguir os aromas do lugar porque já faz parte de quem você é, e você já faz parte do lugar. Desse lugar.
E eu escutei, sobre meu sorriso, sobre ser boa ouvinte, sobre ser feminina, sobre ser, especial.
Eu escutei, sobre ser livre, sobre expressar, aparentar e irradiar, isso de ser livre, isso de ser feliz.
E eu fui, e eu ouvi, e eu mostrei, e eu sei quem eu sou.
Eu amo quem eu sou. Mesmo com todos os meus vícios, mesmo com todos meu erros, eu só preciso me encontrar e me reencontrar, e me deixar exibida, exposta por ai, fazer minha voz propagar, minhas histórias serem escritas. Viajar.
Isadora Mello, 7 de fevereiro de 2019
Créditos da Imagem: Weheartit
Ilustrações: Isadora Mello