2013,  Textos

Cortiça

No silêncio daquela manhã, recordei das memórias que guardei com tanto esmero,

a caixa fedia a enxofre e a cortiça de que era feita descascava ligeiramente a cada vez que eu abria.

Não eram fotos, não eram bilhetes, embalagens, rascunhos,

a própria caixa era a maior recordação e me doía abrí-la,

odiava saber que a cada toque ela se desmancharia,

e que por mais que eu tentasse uma vez mais, ela estaria vazia.

Você não se incomodou de deixar uma simples assinatura,

largou a caixa na porta da minha casa,

e feia e mal-cheirosa que só ela, eu podia jurar que você tinha confundido o caminho até o lixo,

que você considerou minha porta o depósito da sua limpeza de sótão.

Não sei bem quais foram suas intenções,

mas seria mais notável se fossem das boas,

eu sei que o que vale mais é o movimento, mas você não se dedicou tanto.

Olho aquela caixa e tento entender a poesia e o mistério, e não compreendo nada,

meu palpite máximo é considerar a caixa como metáfora,

do nosso relacionamento,

acabado, podre, demanchando aos poucos e ao mínimo toque,

se abre, e está vazio…

sempre esteve.

 

Isadora Mello (2013)

Créditos da Imagem: Weheartit

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