2012,  Textos

Efeito Colateral

Talvez a melhor comparação seja com a janela. E eu estou bem em ver a vida por ali, no instante que ainda exista, posso passar a julgar minha vida pelo o que vi, apreciar.

Minha próxima meta é mais que ver, viver, mas apenas enquanto a dose mínima de ilusão ainda me viciar, satisfazer, e for a única alcançável.

Talvez eu viva quando as porções não forem mais suficientes e eu precisar de incentivos mais fortes que vistas de janela.

Quando escrevo, tenha a ideia errada de que as palavras vão se tornar reais, instantaneamente. Se pensamentos saíram de minha mente e por meio de lápis e canetas marcam-se ao papel, registros podem seguir trilha inversa, e instalarem-se na mente, marcas diferentes não feitas de lápis ou caneta.

Existe uma força na escrita, quando pergunto-me porque escrevo costumo perceber que coloco em torno da minha vida sentimentos que apenas registrei, como? Se paro para avaliar minhas conquistas, conto com o simples fato daquelas que escrevi. Planos passam a ser mais reais.

Eu escrevo quem sou e meu futuro, quando dou por mim estou dirigindo inebriada pelo meio das escritas. Aumentando a dose e me saciando, me iludindo na concepção de que aquilo aconteceu. O golpe não é proposital, e seria um bom artifício caso enganasse também aos outros. Digo, um indutor de felicidade, nada aconteceu, mas a relação com a escrita faz pensar que tudo passou. Eu poderia vender felicidade, se valesse aos outros como vale para mim.

Minha vida será sempre ilusão, daquelas que são bem concretas e com fundamentos, depois de um tempo elas perdem o efeito e me vejo incompleta, mas basta reler para a dosagem recomeçar ou recriar. Meu otimismo estúpido diz que afinal há ainda tempo de realizar e espero o dia que não passarão de somente planos.

É como se em uma realidade paralela existisse a mim e minhas expectativas e eu as completando.

Quando na verdade só estou contemplando.

Qualquer pedaço de papel a entrada, uma porta de conexão a qual eu pudesse ao menos observar.

 

Isadora Mello, 2012

Créditos da Imagem: Weheartit

Ilustrações: Isadora Mello

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