2012,  Textos

Mosquitinho de Luz

Tenho que aproveitar os resquícios da claridade do cinza claro do céu lá fora.

Sinto-me em uma redoma de vidro, uma cápsula de luz fluorescente. Gosto de acreditar que sou energia, que meu corpo são zilhões de pequenos raios que ziguezagam fazendo luz, mas eu devo ser só mais um mosquitinho que se iludiu com a luz brilhante, ficou preso na expectativa de um mundo deslumbrante e morreu queimado.

Meu corpo começa a esquentar, a chuva ligeira, depressa se dissipa, não entendo então porque as janelas continuam fechadas.

Depois do temporal não é mais preciso se preocupar em acabar molhada, não posso continuar trancada na minha cúpula ignorando o frescor.

Agora tenho vontade de sentir as gotas cavalgarem em meu peito, ter a sensação de ser levada pelos ventos, ou que de tão moles minhas roupas se deteriorem.

Mas já é tarde, a chuva já passou, e sei que por mais que lute, quando ela vir de novo, meu primeiro impulso vai ser fechar as janelas.

E só acompanhar as gotas se estribando nos vidros, como o ímpeto de tê-las na pele.

 

Isadora Mello, 2012

Créditos da Imagem: Marina Gondra

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