Colega
Eu sabia que era o último dia e sabia que iria chorar, também sabia que nada seria como foi antes.
Nem agora eu saberei escrever, pelo tempo que faltou, como não escrevi uma ideia ou trecho sequer e deixei em minha cabeça fervendo essa vontade de liberar. Mas não será dessa vez.
Muitas informações e histórias passaram em minha mente nesses dias de abstinência de uma folha. Para eu pensar mais no assunto ou para esquecer, são acontecimentos que seriam úteis ao aplicar em minha rotina, ou uma história que levaria a outra, registros de felicidade da minha vida para sempre.
E sei que mesmo com as mesmas pessoas e o mesmo lugar, nada será como foi antes. Que dói saber que eu não serei mais a mesma. O tempo passa rápido, há arrependimentos e orgulhos, uma fome louca de pressa e quantidade e há tantos sonhos bonitos.
É mais do que não esquecer, é se encontrar de novo, é ser melhor do que já foi.
Eu pensei no que eu era e no que eu conquistei, e nesse curto período que resta, pensei o que eu ainda poderia fazer, agora com meta, e com tempo marcado.
E se me vi amiga de todos e dele algo mais como uma colega (quero dizer, eu tive momentos com ele e lembranças marcantes, mas não era como com os outros) imagine minha surpresa naquele abraço de “alôu” e dele confirmando que poderia me ajudar (ou nos ajudar) no desejo íntimo de sermos mais amigos, como aqueles assuntos pendentes…
Ele passava a ser mais do que um cara que um dia eu podia beijar, em um amigo que viria me visitar no futuro ou pra onde eu viajaria para reencontrar, que poderíamos contar um com o outro.
Ele me viu andando de mãos dadas e várias vezes se metia no meio dizendo “I Love you” e fazendo com que eu largasse a mão da pessoa em questão e no lugar, segurasse a dele, ele saía saltitando comigo de mãos dadas. Estávamos conversando sobre coisas legais quando meu amigo apareceu e ele sumiu para beber água, sem dar razão, nem voltou.
Depois na festa, me fingi de bêbada só para dizer que gostava dele e que ia sentir sua falta. Ele disse que gostava de mim também (e sem nem álcool falso pelo seu organismo) porque disse que eu era engraçada e que sentiria minha falta. Me abraçou, deu tapa nas minhas costas, depois acariciou, uma abraço bom.
Na despedida, me abraçou tendo as mãos em minha cintura, seu corpo alto e forte me protegiam, me sustentavam, deu de novo os tapinhas mas logo trocou pelas caricias, eu chorava.
Ele me afastou para me olhar, escaneou todo meu rosto do queixo até os meus olhos lentamente,
Ia me beijar, ia, ia,
me envergonhei de todo aquele contato, de uma pessoa tão fenomenal como ele. Me abraçou de volta, me enterrou em seu peito,
ele me pediu para voltar.
Foi o abraço, o carinho sem jeito e um beijo no meu ombro.
Mas eu ainda posso vê-lo como minha muralha, como se aproximou, como foi de olhar penetrante, como podia me beijar.
Como sempre pôde.
Isadora Mello, 2013
(mais trechos de diário)
Créditos da Imagem: Weheartit