Sombra
Aqui é você inteiro, e meus escritos sou eu, mas quando eu escrevo sobre você, eu não sei quem eu sou.
Eu conheci esse lugar antes de você, não antes de você conhecer, mas antes de eu conhecer você, na verdade, eu bem que havia te conhecido antes, mas não o você de verdade por aquele que eu gostei, mesmo assim, eu conheci esse lugar sem sua presença, e agora eu o associo a você,
ele nunca foi você, mas agora simplesmente é
Quando paro para lembrar do nosso encontro ontem muitas coisas soam confusas, e eu deveria parar de remoer e procurar sinais ou explicações,
ao mesmo tempo, me orgulho em escrever e a me refugiar nos meus registros, mesmo quando não passam de palavras de ilusão e sonhos
Havia mais alguém ontem além de nós dois, uma sombra que me recordo só agora, eu a sentia mas estava muito distraída para perceber o quão estranho ela era.
Dei um nome aquela sombra, “Expectativa”,
era o que podia ser naquela hora,
e o que podia ser… agora.
Ainda pode ser, não é?
Aquelas crianças continuam ali com seus cachorros agitados mas nós dois não estamos lá.
E não sei quando estaremos de novo.
Uma, duas bicicletas passam por trás de mim e eu viro bruscamente para ver se é você, eu pareço uma idiota.
E o mais impossível – e de consequência o que também imagino, quando escuto passos
eu espero ver nós dois.
Eu estou com a sombra da expectativa,
eu descubro que eu mesma a sou.
Sinto que você está por aqui na ironia do outro lado, ou simplesmente queria que estivesse, e mais, que estivesse também pensando em mim
Escutando música e associando como eu estou fazendo, pensando, esperando, assim como eu
É o mesmo horário do outro dia, mas com você não parecia tão escuro, com aspecto tão tarde.
Daqui a pouco eu preciso voltar,
sozinha,
até com você eu sou sozinha.
Será que ainda dá tempo de você vir até aqui, perguntar o que eu estou fazendo: até quando eu posso esperar, você pode vir, pode nunca chegar, pode aparecer exatamente quando eu não estiver. Eu fico aqui me preparando para todo e qualquer diálogo, em mil variações possíveis
Todos os garotos são você até o olhar mais cético e o mais próximo.
Com a música de trilha sonora, vejo seu rosto sorrindo, penso em como combina com o filme da minha vida, com o que eu ando escrevendo, construindo… com as esperanças… não era para eu ter alimentado o que poderia ser antes do dia de ontem e o que pode vir a ser a partir de hoje, não era para eu estar fazendo nenhuma dessas coisas.
Eu tenho que parar de esperar.
Isadora Mello, 2012
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