Emergente
Duas lágrimas,
eu contei,
não caíram unidas, uma diferença de poucos segundos,
estranhei o choro seco,
o amor estava doendo e me consumindo,
não havia nada mais que eu pudesse pensar,
mal comi e tinha o olhar vago, escrevia ou planejava o que escrever, prevendo a ordem da escrita antes da folha.
Mas só duas lágrimas,
para algo que não me trazia sossego, aquilo pelo o que eu fugi nos dois escapes do final de semana.
Então eu entendi que a fuga era maior,
eu não corri de sofrer de amor,
mas o amor era a própria saída para escapar da saudade,
ter alguém em quem pensar e esperar em cada esquina, alguém para virar bruscamente no indício de barulho
(me distrar, confiar meu coração em alguém que possa amar em retorno, ter algo para se preocupar, cuidar, se resguardar nas novelas impossíveis dos amores quase proibidos)
é a distancia, é o tempo, é a dúvida.
Eu tenho que parar de procurar saídas de emergência,
elas são as mais rápidas,
mas também as mais escuras
(e solitárias)
(e longas)
(e vazias).
Isadora Mello (2012)
Créditos da Imagem: Weheartit