Fardo
Desculpa, por eu não conseguir. Me perdoa. Eu sinto sua pressão em minha orelha, você bate pedindo passagem como se meu tímpano fosse uma porta. Eu sinto o mais sensível do meu ser. Em ouvir meus batimentos cardíacos, sentir a falta de ar e cada osso em escada das minhas costas. E ainda assim, me faltam palavras. Por mais que você precise da minha voz, e eu não te ouça, o medo me segura. Me aprisiona. O poder é assombroso.
Eu queria saber o que fazer. Por onde ir, por onde começar. Não admito já estar no meio do caminho quando sempre me enxergo em um ciclo.
Ciclos não tem nem inícios e nem meios. E ainda me sinto como metade, mesmo que com menos medo de ficar sozinha. Se o mundo não estiver tentando se comunicar comigo, e eu estar extrapolando em ultrapassar um limite inexistente, eu não sei o que será da minha vida.
Eu vivo por isso, por essa mensagem, pelas minhas camadas de pensamentos e conversas comigo mesma. Das coisas que penso mas jamais escrevi. Do que me sai ao papel antes que eu possa ler em minha mente. Sobre a força e a vontade grandiosas jamais alcançadas, ou saciadas. Me vejo em constante e profunda confusão.
Agora eu fui eu mesma.
Apesar de tentar criar personagens e histórias, eu quero finalmente cortar e contestar meu fardo. Me libertar, contornar. Suprimir.
Essa é a vez que saio. Que não me submeto e nem mais sucumbo.
Finalmente romperei o fardo, tenho medo, eu sei. Eu peço. Eu peço para parar mas me escapa o controle.
No medo sou meu instinto.
No meu medo.
Tenho medo de mim
Do que penso. Do que peco. Do que peço.
Eu pediria para você me apontar o caminho, me falar o que fazer
Mas hoje sinto que essas resposta estão em mim.
Então finalmente, e por enquanto.
Não sei o que me falta
Talvez finalmente
Não me falte nada.
Por: Isadora Mello, 2019
Créditos da Imagem: Weheartit