2017,  Em Nome da Mãe,  Textos

A(feto)

Quanto do que eu sou é resultado do que enquanto fui eu consciente de mim?

O que de mim sou eu enquanto apenas do feto, do momento que não me recordo, de quando nada via, de quando não respirava pelo ar, de quando não comia pela boca, de quando não pisava no chão, não sentia as paredes, o espaço ao meu redor, de quando eu não era rodeado pelo vazio?

O que eu vi sem ver, ou escutei sem escutar.

Pelo tempo que nada falei.

Eu não posso dizer que me lembro, mas consigo provocar sentir o que era.

Não há como negar a quentura, o calor, o conforto, um espaço pequeno e enclausurado, mas ao mesmo tempo, libertador, eu podia levitar naqueles fluidos, como voando ou boiando em gravidade zero como aqueles astronautas.

Qual é a sensação de flutuar? Eu já experimentei uma vez.

Tudo me parece na imaginação um pouco róseo também, porém essa conclusão tenho a partir dos conhecimentos de mundo de hoje.

Agora eu queria o contrário, entender o hoje fundamentado no que eu sabia ali atrás.

Perceber se o que eu construo no futuro é reflexo de algo daquele meu passado,

que eu não lembro,

desse desconhecido,

que nunca saberei,

que não é possível de se saber.

 

Por: Isadora Mello, 2017

Créditos da Imagem: Pinterest

Parte I  – “Em nome da Mãe”

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