Fuga(z)
E se eu te falasse que sinto a sua existência, aqui dentro de mim, tão forte, tão imponente, tão real.
Você vive me chamando e eu não consigo escutar.
Apenas resta aquela sensação de que algo está errado, de que existe um motivo para se olhar para trás enquanto caminha, porque alguém clamou meu nome.
Hoje eu tive paralisa do sono, eventos do mesmo dia me fizeram crer em um ser, que me indicou sua presença através de indiretas, transparecendo-se para mim, pelo acaso.
Eu gritava mas ninguém me ouvia, me sentia encurralada em mim mesma, sem saber até quando aquilo perduraria, era uma dor mais do que física, porque era um sono avassalador, eu queria levantar, nem que fosse para sentar na cama, mas não conseguia nem mexer meus pés.
Eu sabia que não ia morrer ali, que aquele tipo de coisa já tinha acontecido antes e que poderia realmente vir a acontecer mais vezes.
Eu teoricamente sabia o que era. E consegui despertar diversas vezes pensando: “agora sim, agora vai, agora eu posso” mas cada vez que eu conseguia acordar e me desprender, eu não sentia necessidade dos apelos, porque pensava que eles não voltariam a ocorrer.
Meus sonhos vem me avisando ultimamente, venho sentindo cheiro de cigarro.
Parece que tudo tem alguma relação depois ao acordar. Para complementar o sonho, para demonstrar a veracidade das confissões. Para se acreditar.
Então meus personagens imploram para ganhar vida (e eu já escrevi a respeito disso antes)
Eles me perguntam, onde estão suas histórias, no meio dos meus pensamentos e das minhas lembranças, do que eu já inventei e nunca registrei, dos caminhos aos quais eu ainda nem imaginei.
Eles me perguntam onde estão, e quando irão aparecer, quando serão reais, quando eu lhes darei vida. Eles já existem, mas ninguém os vê, nem mesma eu. Por enquanto.
Acontece que não consigo decidir quem vem primeiro, a cria ou o criador, a primeira ideia, ou a mais última, qual é o mais importante, qual é o mais urgente, qual é o mais completo.
E entre fazer e escolher, o tempo que perco é ainda para me decidir, sem nada fazer.
Me vejo na solução de colocar no aleatório, deixar que o destino se decida, que seja assim que ele se apresente para mim. Ao mesmo tempo não creio que seja essa a melhor solução, porque aquele que tudo faz ao mesmo tempo, na verdade não faz nada.
E entre mil começos, sempre sou aquela que não consegue consignar nenhum final. Nem um.
Que medo é esse afinal? E por que sempre tanto medo?
Quantas vezes me deparei com o ideal de que havia solucionado os meus próprios enigmas?
Quantas vezes voltei a estaca zero, e regressei em prévias conquistas?
Quantas vezes a única coisa que consigo produzir, são esses textos para mim mesma, cheios de perguntas sem respostas, tempestades internas.
Fugindo de todo o resto.
Fugindo de escrever.
Isadora Mello, 2018
Créditos da Imagem: Weheartit