Durante
Não consigo nem decidir se eu gostaria de lembrar o que é me sentir assim. Parece que estraga, ou polui. (Por isso não consigo resolver se escrevo sobre isso mesmo ou não).
Eu queria não ter que falar desses fatores que estão me incomodando, mas antes tirar eles do meu organismo do que ter que ficar digerindo (e me sufocando) com eles.
Talvez não quisesse me esquecer porque sei que vou me sentir de novo assim, e que eu vou precisar saber como agir novamente, porque se superarei uma vez, é porque saberei lidar com todas as próximas.
Eu não queria te estragar, meu bem. Mas eu não estou aguentando mais. Eu preciso de mais. Eu preciso transbordar. Eu preciso me sentir amada a cada momento, e não andar com dúvidas e inseguranças, o amor não pode permitir esse meu pior lado.
Eu não queria lembrar disso. Eu nem sei o que fazer. Porque eu nem saberia nem como dizer. Por onde começar.
A gente tem sulcos sobre o que não conversamos. E eu não posso mais ficar tentando chamar a sua atenção. Eu estou me sentindo uma droga desde cedo, desde ontem;
Com as coisas que eu não posso perguntar, com aquilo que não me permito sentir ou pensar.
Eu não sei mais o que fazer. Porque há tanto sofrimento, tanto, que eu já não sei mais do que vale.
E eu estou fazendo todo esse drama e todo esse show porque eu preciso desse tipo de interação na minha vida. Eu preciso que você me pergunte para eu poder finalmente responder.
E outras pessoas perceberam no meu tom de voz e na minha maneira de falar, eu não soube nem disfarçar.
Eu não sei o que quero com tudo isso, eu só sei que está tudo errado.
Por que sempre tem algo errado?
E eu não sei o que fazer ou o que ser. Eu só quero ir embora e me libertar. Eu estraguei minha vida e o melhor agora seria começar do zero.
Como a ansiedade e a insegurança podem ser essas duas forças, e o que elas tentam me indicar?
Porque você não se importa.
Eu não sei nem como formular o que me incomoda. Porque está tão intrínseco que chega a fazer parte do que a gente é. Acaba sendo como se eu não pudesse aceitar quem você é.
Tadinha de mim que os assuntos morrem assim. Te amos por mensagens, atitudes apenas depois de falar e pedir, e mesmo assim, nem isso, nem assim.
Quem diabos é aquela menina e por que ela me assombra?
Por que você a tem? Mesmo depois de mim? E a tem muito mais do que me tem? Sei que digo isso pelo meio dos meios, e que talvez não seja nada disso, e por isso não deixo explícito.
Por que ela sempre me rodeia e me persegue? Por que eu vejo o rosto dela mesmo que eu nunca a tenha visto?
Eu não gosto de sentir que você a procura, que você a vê, que você a quer ver.
O que ela significa para você? O que eu significo para você?
Eu estou no meio de um romance de almas gêmeas. Porque a gente não fala de tempo, de eternidade.
Fala comigo, vem me ver, me veja escrevendo e me pergunta, me olha nos fundos dos olhos, não me deixa morrer
Eu não gosto de sentir que a gente não se fala, que a gente não se vê.
Eu sou o que eu canto, e o que eu escrevo, e mesmo assim você nunca foi capaz de conhecer. Você me acompanharia caso eu precisasse?
Eu não gosto de ser uma casca, uma capa, uma cura.
Eu queria que você me amasse como eu amo você.
Eu queria que você viesse mais, me visse mais, me perguntasse mais. Visse o que faço.
Eu não sei nem se poderia contar com sua companhia.
Você me tem por inteira, mas eu não tenho você.
Você sabe ver quando eu estou triste? Quando eu não estou mais a mesma? Quando tem algo errado comigo e tão errado que nem eu mesma sei dizer o que é?
Eu não sei o que te pedir. Eu queria tanto que fosse você.
Por que você não parece me procurar? Porque você parece sempre estar pronto a procurar todos os outros e outras que não eu?
Me dói, me mata.
E por tão pouco, e por tanta besteira;
Mas se fosse só por isso também, você estaria aqui, não é mesmo? E por que você não está?
Quando eu estou. Quando eu vim para facilitar?
Tantas pequenas coisas que até esqueço, espinhos íntimos e mínimos que tiram do meu sangue as minúcias, na dor profunda porém sutil de cada segundo, segundo de dor.
O que vai ser da minha vida agora, o que vai ser da minha vida afinal, o que fazer e quais passos tomar, para onde ir e quem encontrar?
Eu vou desistir de fazer esse meu espetáculo. Tem coisas que a gente não devia pedir. Há coisas que a gente não deveria precisar pedir.
Eu não posso te pedir para pedir.
Como eu posso estar me sentindo tão só? Como você não pode ver que eu estou chorando por dentro, que não consegui te olhar, que não consegui rir?
Como você pode fazer isso comigo e com nós?
O que eu significo para você e por que você não me deixa isso claro? Eu não aguento mais esperar e preencher esse vazio com pensamentos negativos ou mais dúvidas.
Desse jeito eu não vou mais querer você, eu vou naturalmente me obrigar a começar a não te querer aos poucos, me forçar a atingir isso.
E ao mesmo tempo, só sofrendo assim (e se permitindo a isso) para que eu escreva. E para que eu lamente precisar escrever sobre esses momentos que eu gostaria não ter que me lembrar.
Eu não posso mais me agarrar apenas ao que passou.
Eu queria saber o que você está pensando agora.
E eu já terei chorado tanto e tudo que não terei nem mais que falar porque choro, porque não terei nem mais lágrimas. Enquanto você não perguntar por que eu choro? Como você não consegue enxergar?Como você não pode ver o que faz? Porque eu tenho que direcionar e guiar os seus olhos e suas palavras? Por que você não vê? Como você pode achar que o que você faz é o suficiente?
“Te amo bastante” e não “O bastante”, mesmo que você faça parecer que assim o seja. Estou cansada de tentar te chamar a atenção, estou cansada de ter que chamar a atenção.
Você esqueceu de mim como se eu nunca tivesse existido o suficiente para você.
Não fazer diferença é a pior coisa que pode acontecer para uma pessoa.
As pessoas que me fazem mal e a solidão de todo dia
Eu não posso mais ser pelos outros, pelo o que eles pensam, pelo que eles sentem, pelo o que eles vêem.
Eu não posso ser o que eles falam. O que eles me fazem pensar, questionar.
Você sabe que também me faz mal. Com algumas coisas que faz, pelas outras que deixa de fazer. Por me deixar com tantas dúvidas.
E ao mesmo tempo, é tudo, minha culpa.
Isadora Mello, 2017
Créditos da Imagem: Weheartit