Armadilhas
Impasses e Armadilhas, essa é a nossa relação.
Percebo que você consegue captar direitinho a minha energia, por mais que logo você seja a pessoa que não acredita muito nessas coisas.
Me sinto contra a parede com você, em todos os nossos opostos, porque dentro de mim existe um fogo tão forte, que te deseja tanto e com tanta força, e que exatamente por ser desse jeito você sente a necessidade de me extinguir. E tudo que me corta e me diminui, me leva junto, e eu me sinto pequena, inútil e insuficiente.
E então nossos ciclos começam, você não gosta desse meu lado fraco e desse meu lado frágil, essa não é a pessoa por quem você se apaixonou, ao mesmo tempo você não me deixa ser aquela força que eu gostaria de ser e que eu sei que existe dentro de mim,
é quando eu sou essa pessoa que você me procura, que você me precisa, que você vem atrás de mim.
Mas ser tão intensa e não levar nada de volta, é o que me desmotiva, é o que me diminui, é eu ver eu usar todas as minhas forças, é dar tudo o que eu tenho, e ver que nada disso vale a pena, que ninguém merece, que eu sinto vontade de desistir.
Seu amor é fraco, é pouco, eu me engatinho procurando me alimentar de suas migalhas, você me faz acreditar que eu esteja pedindo em exagero, que eu seja expansiva. E eu, te dando todos os sinais, te indicando todos os caminhos, te falando tudo o que precisava ser feito, porque você nunca mediu esforços em fazer o que eu tanto pedia, o que eu tanto precisava? Porque não sou um bom motivo suficiente? Porque não valho a pena o esforço?
Minha vontade é de pagar na mesma moeda, ser tão fria, tão distante, tão sozinha, que você perceba o que é viver com a ausência da minha luz, que você sinta na pele o que é estar do lado de alguém e estar mesmo assim sempre só.
E sabe o que mais? Ai você vai achar que sempre foi assim, que eu sempre fui desse jeito, e você vai achar que não vai querer mais estar do meu lado, mas sou eu que não estava querendo mais.
Eu já me acostumei e me preparei uma vez pra não ter você, e eu vou reencontrar essa força de novo. Porque eu não posso me contentar com o pouco, eu não quero sentir que estou dando tudo de mim e não recebendo nada de volta, isso não está certo.
No dia em que eu achei que você tivesse ido embora da minha vida de vez, eu sabia que eu ainda te amava, eu sabia que seria difícil eu amar alguém como eu amava você, ou encontrar uma pessoa com todas as suas qualidades.
Mas ao mesmo tempo, eu soube identificar os seus defeitos e os seus problemas, eu vi que nossa relação há tempos já não era mais a mesma pela qual eu sempre amei. Confesso, é obvio, que nunca me senti segura, calma e em paz, sempre algo me incomodava, me deixava mal, então sei que nossa relação não foi sempre perfeita. Eu identifiquei que eu precisava me reerguer sozinha, ir atrás dos meus sonhos, me reaproximar dos meus amigos e dos meus familiares, focar nos meus projetos, no que eu precisava fazer.
Eu sabia que você me afastava e tinha me afastado disso, eu sabia que a gente errava e continuava errando, que a gente abria concessão e se metia em umas armadilhas, eu sabia que eu me sentia sozinha e não amada, eu sabia que me sentia insegura e que tinha algo errado. Eu sabia, que pelo meu amor por você, eu sacrificava várias outras coisas e talvez tudo, da minha vida.
E foi quando eu tirei suas fotos do meu quarto, foi quando eu guardei a sua roupa, foi quando eu finalmente aceitei que a gente tinha chegado ao nosso fim, que você percebeu que você precisava de mim. Você só percebe que precisa de mim quando você não me tem. Mas você não percebe que você vai me perdendo todos os dias, pouco a pouco, por tudo o que eu sabia que você poderia ser, tudo o que eu acredito que você tem a capacidade de ser, mas que você não é, e talvez por que eu não valhe esse esforço? Ou talvez porque você não me ame o suficiente?
Você me acostumou com a sua ausência, com o seu silêncio, com os seus julgamentos, com os seus cortes. Você me acostumou cada vez mais a te amar cada vez menos, porque eu sabia que o meu amor ia me machucar e me dilacerar e me destruir até o momento que não existisse e não sobrasse mais nada.
E tudo isso, pra eu precisar mudar com você, pra eu precisar ser menos intensa, pra eu precisar sumir e me distanciar, tudo isso pra depois você achar que eu sempre fui assim. Quando eu não era. Quando eu não sou. A gente só gosta daquilo que a gente não tem. E eu me resguardei nas nossas brigas, porque toda vez que a gente chegava no calor do momento de jogar tudo um na cara do outro, eram nesses momentos que eu sentia que você me amava.
E eu não sei, eu realmente não sei o que fazer. Porque a gente já encarou o fim aquela vez, e foi a pior coisa, e apesar de eu ter me reerguido, eu não sei.
Porque eu estou em dúvidas se essa minha vontade de me afastar é para que você de longe veja que realmente me quer próxima, ou se é simplesmente porque eu preciso estar longe de tudo, por conta própria, pelo meu próprio bem. Tenho que parar de esperar, de criar expectativas. Só que isso vai destruir a nossa relação. Mesmo se eu lutar com tudo o que eu tenho, mesmo se eu deixar ser do jeito que você quer; Porque é esse meu amor intenso que nos sustenta, e eu sei, eu sei que no momento em que eu parar, desistir, me esconder, me afastar, não vai ter mais nada para nos segurar, e quando você perceber (porque você não percebe), já vai ser tarde demais.
E eu não vou querer mais, e você não vai querer mais, e vai parecer que foi sempre isso, e vai parecer que foi sempre assim. Vai parecer que sempre fomos distantes, fracos, poucos, insignificantes, sendo que a gente ficou assim, eu fiquei assim, por ter dado tanto de mim. Por ter exatamente, me previnido e tomado cuidado pra não acontecer. Mas a gente não consegue fugir do nosso destino.
Mesmo com as voltas que a gente dá, com aquilo que a gente tenta consertar e remediar, com tudo o que tentamos adiar. Uma hora o destino chega, e nos coloca no lugar. E o destino hoje me diz, para eu parar, e ficar quieta, não porque você vai vir atrás de mim, mas pra gente acabar de vez. Para eu parar porque agora é o fim.
Ou você tá comigo, ou você não está.
Isadora Mello (2018)
Créditos da Imagem: Retrato Isadora Mello – Foto por: Clara Araujo – @clarapnaraujo