Anúbis
Uma blusa azul escura aparecia momentaneamente pelas bordas e pontas de seu casaco. O marrom e o azul remetiam uma imagem das arábias mas em um azul escuro de alguma noite das outras mil.
Se deserto sempre foi sinônimo de sol, suas roupas eram o momento noturno tão esquecido. No deserto que há frio, há neve, perde seu sol e o brilho de ouro dourado de suas areias, num pó compacto e desbotado naquele enfim pensamento de que falta chuva.
Nesse Oásis iluminado pela própria água serena de nascente distante. Tudo podia ser a miragem de você, como meu deserto, como minha terra desolada,
sua silhueta e perfil em duas faces de deuses,
sob camadas de 7 véus, que sempre te ocultam,
o mar vermelho é meu sangue, o rio Nilo, meu choro, você é a praga que arruína a vida, entre sapos que engulo e gafanhotos que sufocam.
Até o casaco e a blusa são a visão de que o que eu quero, é ver você, mas não há ninguém entre essas dunas.
Nem ventania de mover as areias do tempo você trás, nem uma inspiração de que ainda há vida, ou movimento.
Você é túmulo, restício de vida que existe, prova que tudo se transforma ao morrer e virar pó.
Nas bandagens que você me segura, eu ainda me enrolo e viro múmia de mim mesma.
Você é a cascavel escondida entre os grãos da areia, com o chocoalho de doce música a confundir as sensações, o sibilar tenro a dar ideia de que não há dor, quando há sempre dor.
O azul, é de Anúbis, é anil.
Isadora Mello (2013)
Créditos da Imagem: Google