Demasia

Não há jeito, temos que falar de amor. Não importa o tanto que precisei fugir, não interessa o curto convencimento de que não era de todo necessário. Mas o amor deve ser palavra, e daquelas de falar, escrever, ouvir, sentir. Não consigo avançar, tenho fragmento de passado, sonhos e desejos que passam ríspidos pela minha garganta, ânsia contínua de atingir o mundo de fora, meu mundo só é rascunho do pequeno. Meu ego de tamanho duvidoso (grande pequeno demais) faz tudo se resumir em mim, e consequentemente em planos, metas, em como sentir, como expressar, como escrever, falo de fome, falo de medo, ou seja é tudo sobre mim, é tudo um nada, de certa forma É muita palavra sem consistência, quantidade de frases sem valor. O dia que eu não tiver expectativa, tudo dará certo. Não deve ser o alvo ou o limite, deve ser consequência, por isso, apenas almejar não funciona. Tudo está no resumo do emborolamento, eu tranco porque tenho pouco a falar, ou muito? Tudo volta a mim porque é vazio demais ou em demasia? Se tudo é como deveria ser, tem como me explicar o que exatamente é agora? Eu só preciso seguir uma trilha, a errada, com pista, é melhor estar em lugar nenhum, do que simplesmente não estar.     Isadora Mello, 2012 Créditos da Imagem: Weheartit Ilustrações: Isadora Mello